Semana de Meio Ambiente 2020

O primeiro semestre de 2020 está terminando. Este ano é marcado pela pandemia do novo coronavírus, mas isso não impede a causa ambiental de ser debatida. O Jornal da PUC registrou os acontecimentos dos três dias da primeira edição online da Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio.

Aqui está a reportagem “A sustentabilidade na pandemia e no progresso humano” de Luísa Marzullo:

Palestrantes discutem os diferentes impactos da degradação ambiental durante e após a pandemia

No último dia da XXVI Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio, organizada pelo Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA), foi realizado, sexta-feira, 5 de junho, o seminário Dimensões do Laudato Si. A transmissão online permitiu a participação da orientadora sênior de sustentabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Emma Torres, que fez palestra seguida do professor catedrático da Universidade de Lisboa Viriato Soromenho-Marques. A mediação dos dois debates foi do professor Marcos Cohem, do Departamento de Administração.

Em sua palestra, Emma Torres abordou o tema Laudato Si’ na Pandemia, na qual traçou paralelos entre a encíclica do Papa Francisco e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Pós-graduada em economia ambiental e mudança climática pela Universidade de Harvard, Emma identificou uma relação direta entre os direitos humanos, base da Laudato Si’, e os objetivos globais de sustentabilidade. 

Emma Torres

Ao discorrer sobre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), a representante do PNUD lembrou quando eles foram criados no evento Rio +20, ocorrido em junho de 2012, no Brasil. Ela afirmou que agora existe uma demanda por ações emergenciais, mas, com o fim da pandemia, serão essenciais ações estruturais como uma recuperação econômica alinhada aos ODSs.

– A recuperação da pandemia é uma oportunidade para investir em economia sustentável. Essa visão já é adotada na Europa. O Canadá também segue a mesma linha. Eu acho que terá um impacto no Brasil. Espero que o diálogo com a ONU continue, já que o Brasil liderou as negociações pelas ODS e é um país que tem todos os ativos para ser uma economia sustentável.

A economia sustentável, segundo Emma Torres, é efetiva caso haja investimentos iniciativas no ambiente das cidades, como hortas urbanas, telhados verdes e sistema de bio-retenção da água. Já no meio rural, a construção de postos de saúde e a capacitação de agentes nas próprias comunidades são algumas das medidas que auxiliariam neste processo, que consiste em reduzir o desmatamento e aumentar a resiliência nas atividades econômicas.

Emma destacou que, como coordenadora da SDSN Brasil, Rede de soluções de desenvolvimento sustentável, a PUC-Rio exerce um importante papel para as Nações Unidas. Para orientadora sênior de sustentabilidade do PNUD, é necessário promover um diálogo dentro da academia acerca do que é a agenda sustentável para a comunidade.

– O mais importante das universidades é promover um diálogo com os estudantes, da agenda sustentável para a cidade e para o país. Por outro lado, temos outras linhas de trabalho global. Mas a ideia é cada universidade incluída adotar na cidade que ela está inserida.

No segundo debate – a Laudato Si’ na Academia – o professor Viriato Soromenho-Marques ressaltou o papel das universidades em defesa do meio ambiente. Em uma abordagem histórica, o mestre em filosofia comparou o passado de abundância natural com o estado de destruição atual do meio ambiente. Soromenho-Marques alertou para as responsabilidades das ações dos homens que, segundo ele, não respeitam os ecossistemas e usam irracionalmente os recursos naturais para controlar os fluxos de energia e resíduos.

 Professor Viriato Soromenho-Marques, da Universidade de Lisboa

Esse cenário, de acordo com o professor, é resultado do desejo incessante de fazer crescer a economia às custas da natureza o que, observou, se evidenciou durante a pandemia. Para Soromenho-Marques, a lógica neoliberal de um crescimento infinito da economia levou países a catástrofes.

– Portugal priorizou uma política de proteção da população e não da economia, como na Suécia – país mais rico que Portugal. A Suécia quis proteger a economia, o “bezerro de ouro”, e os estragos são visíveis: um número muito maior de mortos do que em Portugal. 

 O professor afirmou que mesmo sendo muito importante, o estado não garante a permanência em casa.

– Nós temos que trabalhar para que o estado seja um instrumento de liberdade e não de tirania. O problema é que na maioria dos lugares, o estado serve a 1% da população.

Viriato Soromenho-Marques questionou o modelo tecnológico vigente que, segundo ele, vem desprovido de uma visão crítica. Para ele, é preciso abandonar o otimismo e ter lucidez para compreender que a tecnologia visa controlar a natureza.