O primeiro semestre de 2020 está terminando. Este ano é marcado pela pandemia do novo coronavírus, mas isso não impede a causa ambiental de ser debatida. O Jornal da PUC registrou os acontecimentos dos três dias da primeira edição online da Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio.

Aqui está a reportagem “Respeitar a natureza para uma vida melhor” de Nathalie Hanna:

A relação de religiões com o meio ambiente e a ação do homem para preservar o planeta foram discutidas no segundo dia da Semana do Meio Ambiente

O tema Fé no Clima e as Alterações Climáticas no Contexto da Pandemia foi o tema abordado na Semana de Meio Ambiente, na quinta-feira, 4 de junho. O encontro transmitido on-line promoveu um diálogo inter-religioso, com a participação de representantes de diferentes religiões. Um outro debate sobre mudanças climáticas foi realizado com o professor Filipe Duarte, da Universidade de Lisboa, e o professor Sergio Besserman, do Departamento de Economia. Os painéis foram mediados pela coordenadora de Extensão do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA), professora Maria Fernanda Lemos, e pela Coordenadora da Iniciativa Fé no Clima, Moema Salgado. 

Ex-aluna de Ciências Sociais da PUC-Rio e babá de Umbanda da Casa do Perdão, Mãe Flávia Pinto, ressaltou a importância do meio ambiente em  algumas religiões, como a Umbanda, que utiliza elementos da natureza para realizar certos rituais. Ela apontou as origens afro-brasileiras da religião e destacou que este tipo de crença cultiva a consciência da preservação da natureza, que é uma parte importante na conexão dos umbandistas com o meio ambiente.

– Tanto a umbanda como o candomblé são religiões de origem africana, e a umbanda indígena também. Segundo os laudos arqueológicos, nós existimos muito mais do que 2020 anos. Nós não somos religiões da era moderna, nós somos tradições étnicas culturais.  Nossa relação com o meio ambiente é uma relação de sobrevivência. O uso da medicina tradicional vai estar presente na nossa religiosidade de uma forma muito integral, nós temos conhecimentos do uso das ervas, das folhas, das raízes, das águas e da preservação. 

Mãe Flávia Pinto, rabino Dario Bialer e Mirim Ju Yan

O rabino da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro Dario Bialer afirmou que o trabalho de Deus reflete em tudo que o homem faz. Para ele, os seres humanos são as mãos de Deus no mundo. Bialer ressaltou o valor do projeto Fé no Clima e completou com a observação de que a fé no clima não vai se comportar por meio da fé, e sim da obra das mãos de cada indivíduo. O clima, segundo o rabino, será a consequência da obra do homem e ele é a resposta pelo o que o ser faz e deixa de fazer.

Integrante do Conselho Indígena do Distrito Federal, Mirim Ju Yan destacou a magnitude da natureza para os indígenas. Ele comentou que, para eles, a relação com a mãe-terra é única, não existe ambientalismo indígena. Ju Yan afirmou que não existe a separação do que é sociedade e do que é meio ambiente: as pessoas constroem o mundo sagrado e o cultivam; elas são o meio ambiente, são a natureza, observou.

Crise climática 

No segundo painel, o professor Filipe Duarte, da Universidade de Lisboa, comentou as modificações climáticas que vão surgir a partir do cenário atual. Duarte também ressaltou a importância do Papa Francisco, que reconhece o valor da ciência, sobretudo em um mundo que necessita da tecnologia para solucionar os problemas. De acordo com ele, a atmosfera mudará se a população não passar por uma transformação. O professor enfatizou que os problemas globais são definidos como crises de caráter global e socioeconômico, o que aumenta a desigualdade no mundo.

– As alterações climáticas começam a afetar muitas populações pelo mundo, mas vão se tornar mais graves se nós não travarmos as emissões de gases com o efeito estufa na atmosfera. É hora de dizer adeus aos combustíveis fósseis, reconhecer que foram muito importantes na nossa civilização, mas agora é tempo de mudar, é tempo de fazer uma transição energética para as energias renováveis. Também é tempo de sermos mais cuidadosos no uso de energia. 


Professor Filipe Duarte, da Universidade de Lisboa

O professor Sergio Besserman, do Departamento de Economia, frisou que é necessário implementar medidas em relação à crise climática que, segundo ele, é a sexta grande extinção que o humano está imerso. Besserman observou que a instabilidade do meio ambiente é causada pelos comportamentos prejudiciais do homem, e o maior obstáculo da raça humana são os efeitos que o desequilíbrio da natureza possam causar.

– Eu quero destacar não apenas os aspectos científicos, mas o futuro que é afetado pela pandemia. O maior desafio da humanidade, neste momento, é a crise climática. Os impactos que ela causa são gigantescos e vão seguir se continuarmos a trilhar a estrada que estamos trilhando. Ela traz desafios inéditos, como ser uma única tribo e a equidade intergeracional. Nós somos tribais, mas agora somos uma tribo de fato, estamos juntos. A humanidade era abstrata e agora tem que ser concreta.

Professor Sergio Besserman, do Departamento de Economia. Foto: Larissa Gomes

Além de Duarte e Besserman, o segundo dia da Semana do Meio Ambiente teve a presença do diretor do Departamento de Teologia, padre Waldecir Gonzaga, do rabino Dario Bialer, da socióloga e Mãe de santo Flavia Pinto, do pastor Timóteo Carriker e do indígena Mirim Ju Yan, que participaram do primeiro debate.